(...)
Desço
para o centro da terra,
atravessando o sono inicial
dos fetos líquidos dos lagos.
E passando, levemente acordo
os profundíssimos olhos verdes, vagos,
das águas esperando
o calor filial dos peixes.
No dorso deste espírito dolorido
que flutua pelas eternas penumbras,
cavalgo devassando as fostes da vida
donde goteja um leite amargo e turvo.
(E descendo
é como se descesse dentro de mim
nas cobardias-detritos das águas,
nos heroísmos-resíduos das fráguas.
E seja por que for
no suor anónimo das mágoas).
(...)
Carlos de Oliveira- Descida aos Infernos
Poiso a mão vagarosa no capô dos carros como se afagasse a crina dum cavalo.
Vêm mortos de sede.
Julgo que se perderam no deserto e o seu destino é apenas terem pressa.
Neste emprego, ouço o ruído da engrenagem, o suave movimento do mundo a acelerar-se pouco a pouco.
Quem sou eu, no entanto, que balança tenho para pesar sem erro a minha vida e os sonhos de quem passa?
Vêm mortos de sede.
Julgo que se perderam no deserto e o seu destino é apenas terem pressa.
Neste emprego, ouço o ruído da engrenagem, o suave movimento do mundo a acelerar-se pouco a pouco.
Quem sou eu, no entanto, que balança tenho para pesar sem erro a minha vida e os sonhos de quem passa?
quinta-feira, maio 05, 2005
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