Poiso a mão vagarosa no capô dos carros como se afagasse a crina dum cavalo.
Vêm mortos de sede.
Julgo que se perderam no deserto e o seu destino é apenas terem pressa.
Neste emprego, ouço o ruído da engrenagem, o suave movimento do mundo a acelerar-se pouco a pouco.

Quem sou eu, no entanto, que balança tenho para pesar sem erro a minha vida e os sonhos de quem passa?

sábado, novembro 05, 2005

Baleeiro

Livre de estranhezas e assumindo a vida de frente
sou eu agora que comando o barco,
navego por estes mares que só eu conheço
e descubro que doi navegar sozinho.

A estranheza do horizonte tem os seus mistérios
e um bom navegador sabe para onde o vento sopra.
Tento estar atento a tudo, não deixo nada ao acaso.
Se cá ficar serei apenas um número...

Levo comigo meses inteiros de saudade
e a pressa de chegar é muita,
mas não posso voltar de mãos vazias
e a fome aperta a cada dia.

Se ao menos uma gota de esperança
viesse parar à rede, muito tinha para contar.
O livre destino é agora o meu vento,
em que direcção vai ele soprar?

Nestas linhas breves está a minha vida
e o meu regresso vai estar no meu olhar
quando puder cruzar o teu,
aí no cais, depois de atracar.

Seguiremos juntos longos meses
e aquilo que fizer hoje,
será o sustento desse tempo.
Que o meu regresso venha depressa...


31 de Janeiro de 20005