Poiso a mão vagarosa no capô dos carros como se afagasse a crina dum cavalo.
Vêm mortos de sede.
Julgo que se perderam no deserto e o seu destino é apenas terem pressa.
Neste emprego, ouço o ruído da engrenagem, o suave movimento do mundo a acelerar-se pouco a pouco.

Quem sou eu, no entanto, que balança tenho para pesar sem erro a minha vida e os sonhos de quem passa?

sexta-feira, abril 15, 2005

Vamos pensar?...

No outro dia dei comigo a pensar como este mundo anda ao contrário...Vinha a andar pelos Prazeres ( a minha Freguesia) quando reparei na quantidade de pessoas mais velhas, não aquele tipo de idosos que nos lembramos sempre, mas pessoas que têm às suas costas o fardo de sustentarem uma família.
Eu conheço muitos casos de avós que sustentam os filhos e os netos com as suas miseráveis... reformas!!! Isto para mim é incrivel! Parece que houve um hiato nas gerações, os avós ficaram a cuidar dos netos e os pais desses netos dependentes dos avós.
O problema ainda aumenta quando pensamos que muitos desses avós já estão sozinhos, quase todos viúvos e alguns até têm escrito no B.I. "Solteiro". Pela experiência que tenho a maioria são mulheres com mais de 60 anos, sozinhas, a ganhar para alimentar e cuidar dos filhos ( alguns com graves problemas de inserção social, de dependências e muitas vezes desempregados) e dos netos, que ás vezes são muitos e com idades variadas.
Depois deste cenário será que ninguém pensa nesta população ainda tão activa? É certo que eles de solidão, aparentemente, não sofrem, têm a casa cheia; aparentemente também não sofrem de graves problemas de saúde, porque se sofrerem têm que se conter e nem têm tempo para ir ao médico. Mas não seria altura de poderem estar mais descansados a gozar o pouco dinheiro da reforma e poderem ser activos de livre vontade, em vez de o serem por obrigação para manter de pé uma casa a transbordar de gente?
E no fim disto tudo, pergunto:
Quando eles morrerem o que vai acontecer a estas tantas, tantas e tantas famílias?
O que vai acontecer a tantas crianças e a tantos jovens dependentes destes avós esquecidos?
Isto não é um problema apenas da terceira idade, dos reformados. Isto é um grave problema social e portanto, um problema de todos nós!

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